Os transtornos de ansiedade, depressão e fadiga mental demonstram crescimento substancial na última década, de acordo com a American Psychological Association, e com aumento significativo durante a pandemia (FILGUEIRAS et al, 2021). O uso de plantas que apresentam eficácia e segurança pode ser uma estratégia para auxiliar no tratamento e recuperação da saúde mental.
O tratamento interdisciplinar é o que se entende por mais efetivo no reequilíbrio de corpo e mente. Realizar atividades físicas com frequência, meditar, psicoterapia e avaliação médica em conjunto são pontos fundamentais para recuperar o equilíbrio mental e psicossocial em momentos de estresse agudo e crônico.
Saiba mais sobre plantas de uso tradicional
No bioma amazônico é possível encontrar uma grande variedade de plantas com fitoquímicos antiinflamatórios já bastante estudados e aplicados nos tratamentos, hoje denominados integrativos e complementares pelo Ministério da Saúde nas PNPICS (Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares no SUS). Alterações de humor como irritabilidade, agressividade e comportamentos inadequados podem ser consequência de inflamação no nosso sistema nervoso, também conhecido como neuroinflamação. Por isso, a utilização de plantas antiinflamatorias, como Guaraná e Marapuama, podem ajudar na melhora nos quadros de humor e fadiga mental.
O Guaraná (Paulinia cuppana), a Marapuama (Croton heliotropiifolius Kunth) e a Catuaba (Trichilia catigua A. Juss) são plantas de uso tradicional e pertencentes à flora amazônica e do cerrado brasileiro (DS SENA et al, 2013) e que se comprovam eficazes, a partir de estudos, no manejo de ansiedade e fadiga tanto física, quanto mental.
O Guaraná é uma fruta do guaranazeiro e que, embora seja da região amazônica, atualmente é mais cultivada na Bahia. É um fruto cuja semente é rica em fitoquímicos que, na concentração correta, estimulam o nosso sistema nervoso central e por isso é conhecida como planta energética. É rica em cafeína e teobromina que são os compostos que agem em nosso cérebro auxiliando na redução da fadiga física e mental. O uso de guaraná auxilia na melhora da cognição, memória e concentração e os efeitos são compatíveis com as diferentes doses. Em jovens foi constatada a melhora de humor e disposição física (CAMPOS,2018).
Embora as pessoas já estejam habituadas a beberem refrigerantes a base de guaraná, é importante deixar claro que a concentração é o que garante a ação e é por isso que os povos amazônicos cultivam o habito de consumir o pó da semente de guaraná todas as manhãs. A tradição local conta que a barra prensada de pó de guaraná é a grande responsável pela disposição física mesmo frente as altas temperaturas locais.
A Marapuama, assim como a Catuaba, é uma planta que já se mostrou eficaz em ultrapassar a barreira hematoencefálica, ou seja, ela realmente pode agir nas células do nosso cérebro. Uma vez lá, ela é multifunção: tem papel anti-inflamatório, antioxidante e estimulante (MUCIENIKS,2020). Quando entendemos que os compostos naturais de uma planta ajudam a proteger nossos neurônios e melhorar a nossa disposição, o manejo de fadiga física e mental passa a ser mais acessível, seguro e eficaz.
Desde 2006 o Ministério da Saúde discute e implementa as Práticas Integrativas, onde o uso de plantas medicinais só cresce com qualidade e eficiência. Esta é uma das razões de resgate de nossa tradição de uso e que, aliada aos avanços tecnológicos, neste momento, conta com padrão de qualidade inquestionável.
E para auxiliar no manejo da ansiedade a planta mais indicada na prática clínica é a Passiflora, também conhecida como Maracujá. Em geral, o feito calmante, ansiolítico e sedativo é obtido da infusão de folhas e flores. Estudos revelaram que a parte aérea em dose baixa tem ação ansiolítica e em dose alta funciona como sedativo (DENG et al., 2010). A maneira mais eficaz e segura é a utilização do extrato das folhas que aumenta o tempo total e a qualidade reparadora de sono (BUM et al., 2004). De modo geral, o consumo do suco da polpa é bem pouco tranquilizante. Na Passiflora, os grandes responsáveis pela atividade de redução de ansiedade são chamados de alcaloides harmânicos e de flavonoides (ZERAIK et al., 2010).
Qual a segurança na utilização da fitoterapia?
A segurança de podermos ter os fitoquimicos padronizados quando usamos uma planta na forma de extrato líquido, em cápsulas ou qualquer outra forma farmacêutica, garante que todos os produtos originados daquela planta, tem o mesmo volume de compostos ativos. Esta é a chave para a segurança de uso quando comparamos com preparações caseiras. Por exemplo, fazer um “shot energético” cuja receita inclui uma colher de chá de pó da planta quer dizer que em um dia podemos colocar 3g ou 5g ou até mesmo 8g, dependendo do entusiasmo no porcionamento. Quais são as consequências deste tipo de preparação? Ela pode apresentar subdose ou superdosagem e em ambos os casos poderá não funcionar adequadamente para as pessoas, podendo, inclusive, gerar alto risco quando em doses altas e inadequadas.
É de extrema importância que haja a compreensão de que o tratamento de transtornos de ansiedade e desequilíbrios emocionais deve ser orientado por profissional capacitado que detém o conhecimento profundo de qual é a melhor estratégia para cada indivíduo em momentos diferentes de vida, pois o objetivo é um só: auxiliar a reequilibrar a saúde física e mental de todos.
Referências:
https://www.apa.org/news/press/releases/2020/11/anxiety-depression-treatment
Mucenieks , http://www.eaic.uem.br/eaic2020/anais/artigos/4451.pdf
ASSIS, G.G. DE, GASANOV, E. V. BDNF and Cortisol integrative system – Plasticity vs. degeneration: Implications of the Val66Met polymorphism. Front. Neuroendocrinol. 55, 100784., 2019.
CAMPOS, A.F. Effects of guarana (Paullinia cupana) on cardiovascular health: a systematic review. [Master’s Dissertation in Nutrition in Public Health] – Faculty of Public Health University of São Paulo, São Paulo, 2018
DS SENA, A de Mello Hentz – Revista Agroecossistemas, 2013 – periodicos.ufpa.br
FILGUEIRAS, M Stults-Kolehmainen – MedRxiv, 2020 – medrxiv.org
OTTE, C., Gold, S.M., Penninx, B.W., Pariante, C.M., Etkin, A., Fava, M., Mohr, D.C., Schatzberg, A.F.,. Major depressive disorder. Nat. Rev. Dis. Prim. V.2, p. 1–20, 2016.
ROTHENBERG, D.O.N., ZHANG, L. Mechanisms Underlying the Anti-Depressive E ff ects of Regular Tea Consumption. Nutrients. V. 11, p. 1–38, 2019.
VANDERLI MARCHIORI – NUTRICIONISTA E FITOTERAPEUTA